‘Diagnóstico difícil’, diz médica sobre casos de trombose após uso de pílula

O caso de saúde de uma estudante de Botucatu (SP) teve grande repercussão na internet nesta semana, depois que a jovem divulgou que teve trombose cerebral por usar pilula anticoncpcional. Segundo a médica ginecologista e obstetra Laila Kimie Yamashita, casos desses tipos são difíceis de prever. “É um diagnóstico difícil de fechar. Boa parte das mulheres que não têm histórico descobre a predisposição quando acontece algo. É complexo, não existe um exame que possa ser feito para prevenir”, destaca.

Na mensagem que postou no seu perfil em uma rede social, Juliana Bardella, de 22 anos, contou como tudo aconteceu e ressaltou que não apresentava histórico de saúde que aumentasse os riscos de sofrer uma trombose.

“Não tenho histórico familiar, não sou fumante, e os exames de sangue estavam normais, não tinha predisposição a ter trombose”, diz na postagem. E entrevista ao G1, a estudante também confirmou isso. “Eu não imaginava, levo uma vida boa, me cuido, minha família nunca teve caso. Foi um susto muito grande.”

A publicação foi feita na terça-feira (2) e teve uma repercussão impressionante. Até este sábado (6), o post tinha quase 80 mil compartilhamentos e mais de 175 mil comentários. A jovem ficou surpresa com a repercussão, mas, feliz porque o objetivo era fazer um alerta. “De jeito nenhum eu esperava esta repercussão. Esperava repercutir com o pessoal da faculdade, no meu círculo de amigos. Mas acho que é importante, eu fiz uma crítica e é importante para as mulheres se cuidarem. Eu mesma me negligenciei e fiquei feliz em falar sobre o assunto.”

Sintomas

A universitária, que cursa medicina veterinária na Unesp de Botucatu, relata que tudo começou com uma dor de cabeça, que “foi aumentando gradativamente durante três semanas, até ficar insuportável.” Ela procurou o hospital da cidade, onde a médica receitou analgésicos. Dois dias depois, percebeu que a perna e os braços demoravam para obedecer um comando.

A jovem resolveu faltar à aula e esperar que aquilo, que acreditava ser apenas um mal-estar, passasse. “Alguns minutos depois peguei o celular para fazer uma ligação, mas foi muito difícil, fiquei muito tempo olhando para a tela sem saber o que fazer, como se tivesse esquecido como manusear um telefone. Deixei o celular de lado e fui ao banheiro, e para o meu maior desespero não sabia mais usar o banheiro, fiquei olhando pela porta e não sabia mais por onde começar, como isso era possível?”, escreve.

Após ligar para os pais, com ajuda de amigas, ela foi levada para um hospital em São Paulo, onde fez os exames que confirmaram o quadro de trombose. “Foi um choque, não consegui entender bem o que estava acontecendo, o médico me perguntou se eu tomava anticoncepcional, eu disse que sim, há cinco anos, e então ele disse que essa poderia ser a causa do problema”, relata.

Depois de 15 dias de internação, três deles na UTI, veio a confirmação de que o quadro tinha sido causado mesmo pelo uso do anticoncepcional, que ela usava há cinco anos. “Três ginecologistas diferentes, e nenhum me alertou sobre a trombose, mesmo perguntando a respeito, nenhum falou que seria um risco. Não tenho histórico familiar, não sou fumante, e os exames de sangue estavam normais, não tinha predisposição a ter trombose”, destaca.

Estudos sobre os riscos

Alguns tipos de anticoncepcionais estão relacionados ao aumento do risco de trombose. Esse risco é bastante conhecido pela medicina, por isso, a prescrição de um contraceptivo deve levar em conta se a mulher tem outros fatores de risco para a doença.

Segundo a médica existem três tipos de anticoncepcionais que separados de acordo com a dosagem do hormônio etinilestradiol, que comprovadamente pode levar aos casos de trombose. Os de primeira geração têm alta dose desse hormônio, os de segunda têm baixa dose e os de terceira, que também apresentam baixa dose combinada com outro tipo de hormônio, o progestagênio diferente, como é o caso da drospirenona que está presente no Yaz, medicamento que era utilizado pela estudante de Botucatu.

“O tromboembolismo venoso é historicamente atribuído a altas doses do componente estrogênico, no caso o etinilestradiol que se encontra na formulação da grande maioria do contraceptivos sendo o principal agente precursor do aumento da coagulação sanguínea. Por conta disso, os anticoncepcionais de terceira geração são considerados os mais seguros.”

De acordo com a médica, há estudos que identificaram que alguns tipos de progestagênio podem potencializar o risco de tromboses, mas eles não são conclusivos. “Umas das explicações para os casos ocorridos com quem toma os medicamentos de terceira geração, é que eles são prescritos para um público maior, inclusive mulheres que tem alguma predisposição, com o intuito de preservá-las. Com são mais mulheres utilizando esses medicamentos a probabilidade de ocorrer um evento adverso também se torna maior.’

Mas por outro lado, Laila explica que estudos mais recentes, realizados com maior número de mulheres em 2015, apontam que incidência de casos de trombose em mulheres que usam os medicamentos de terceira geração é de 5 em 100 mil, enquanto para mulheres que não utilizam qualquer medicamento é de 1 em 100 mil.

Apesar disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária já emitiu um alerta para que seja comunicada sobre reações adversas graves com mulheres que tomam os anticoncepcional com hormônio drospirenona. O alerta foi dado após uma pesquisa da agência americana FDA, divulgada em 2011, sugerir um risco aumentado de formação de coágulos sanguíneos, de trombose venosa e tromboembolia pulmonar. Artigos publicados no British Medical Journal (BMJ) levantaram a mesma questão.

A bula do medicamento Yaz, usado pela jovem de Botucatu, informa sobre a contraindicação a pacientes que possuem histórico de trombose, enxaqueca e outras doenças, e traz o seguinte alerta: “Estudos epidemiológicos sugerem associação entre a utilização de COCs e um aumento do risco de distúrbios tromboembólicos e trombóticos arteriais e venosos, como infarto do miocárdio, trombose venosa profunda, embolia pulmonar e acidentes vasculares cerebrais. A ocorrência destes eventos é rara”.

Em nota ao G1, o laboratório Bayer, que fabrica o Yaz, informou que a empresa segue a decisão da Comissão Europeia, que concluiu que “os benefícios dos contraceptivos hormonais combinados na prevenção da gravidez não planejada continuam a superar os riscos e que a possibilidade de tromboembolismo venoso (TEV), associada ao uso de contraceptivos hormonais combinados, é pequena”.

Fonte: G1

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